segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Brooklin, de John Crowley **1/2

Uma das coisas que dá para perceber ao se assistir a “Brooklin” (2015) é que o livro original no qual o seu roteiro se baseou deve ser realmente bem interessante. A trama tem significativa profundidade dramática, com uma história que apresenta um rico subtexto ao abordar preconceitos sociais e amadurecimento pessoal. Além disso, alguns diálogos encantam pelo tom espirituoso e repleto de sutilezas. O problema do filme de John Crowley está na sua concretização como narrativa cinematográfica. É como se a abordagem artística do cineasta estivesse fora de sintonia com a sua parte textual. A produção opta por um constante e equivocado tom solene na sua encenação e atmosfera. Cada cena relevante sempre vem acompanhada por uma pomposa composição cênica e por temas instrumentais excessivos e piegas. Dessa forma, mesmo a aludida qualidade textual da trama e das falas acaba prejudicada, soando por vários momentos como xaroposas e edificantes lições de vida. O mérito de se ter uma história cativante e cheia de significados existenciais é posto a perder diante de truques melodramáticos forçados – é de se notar a profusão de cenas de personagens olhando para o horizonte a simular reflexão ou o excesso de atuações afetadas a simular fleuma britânica. Pode parecer até covardia a comparação, mas falta para Crowley aquela centelha de criatividade e elegância de David Lean que transformava simples dramas românticos e sociais em memoráveis épicos sentimentais.

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