quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Violette, de Martin Provost ***

A estrutura narrativa da cinebiografia “Violette” (2013) é marcada por um rigoroso academicismo. Para o diretor Martin Provost, o enfoque maior da obra está na história de vida da escritora francesa Violette Leduc (Emmanuelle Devos) e também na caracterização do contexto histórico e social no qual ela estava envolvida, sendo que grandes ousadias estéticas não seriam a prioridade para o cineasta. Ainda que opte por essa abordagem convencional, é de se reconhecer que o estilo classicista de Provost é executado com sobriedade e sutileza. Seu formalismo consegue realçar tanto as particularidades da época retratada quanto a personalidade complexa de sua protagonista. O roteiro do filme é exemplar no sentido de como colocar em evidência aquilo que interessa numa biografia – ao invés de fazer um resumo simplista de fatos, a trama expõe de maneira profunda os dilemas políticos e existenciais que marcaram boa parte do século XX dentro da relação que se estabelece entre Violette e a filósofa Simone de Beauvoir (Sandrine Kiberlain). Tormentos sentimentais, contestações comportamentais e preconceitos morais são dissecados a partir de uma perspectiva artística franca e madura e que mesmo para os dias de hoje consegue soar bastante desafiadora. Provost ainda tem o mérito de conseguir extrair desempenhos antológicos de suas atrizes principais, com a visceral Devos dando vazão a uma expressiva gama de sentimentos e reações contraditórios e brutais, enquanto Kiberlain apresenta uma composição dramática contida e cerebral. Dentro desses acertos criativos, “Violette” atinge um resultado positivo amplo: desperta curiosidade e interesse em relação à sua biografada e também comove pelo pungência do drama humano narrado.

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