quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Deadpool, de Tim Miller ***

Dentro do universo atual das adaptações para o cinema dos quadrinhos, “Deadpool” (2016) é praticamente uma anomalia. Apesar do seu protagonista ser um personagem da Marvel Comics de considerável popularidade, o filme tem censura 18 anos. E essa classificação etária não é gratuita, pois a produção realmente capricha na violência gráfica, com direito a uma gama expressiva de cenas com mutilações explícitas diversas, além do fato do seu teor cômico abusar do humor negro, da escatologia e da sordidez (há várias piadas sobre masturbação e Deadpool é penetrado por um consolo pela sua namorada). Tais elementos temáticos já eram bastante presentes nas HQs originais, mas era de se esperar que talvez fossem atenuados nessa versão para os cinemas, tendo em vista a obra do diretor Tim Miller ser um potencial blockbuster. Ocorre, entretanto, que o universo de Deadpool foi recriado de forma fiel e coerente por Miller. Mesmo uma pretensa heresia como a do anti-herói ter uma namorada apaixonada acaba se mostrando em sintonia com o espírito distorcido dos quadrinhos, pois a garota é prostituta e stripper. Outra característica forte das HQs de Deadpool está presente, a metalinguagem alucinada, e suas possibilidades criativas são muito bem trabalhadas. E há um dos ingredientes principais para que um filme como esse funcionasse: uma boa mão de Miller para cenas de ação, com uma conjugação de coreografias e efeitos digitais que emula com eficiência a própria dinâmica de uma HQ de super-heróis. E também é de se admitir que é um tremendo mérito para o cineasta conseguir extrair uma atuação carismática do habitual canastrão Ryan Reynolds.


A combinação entre brutalidade desenfreada, comicidade escrota e atmosfera amoral em “Deadpool” acaba criando a estranha impressão estética de se estar vendo um típico filme B no gênero aventura fantástica com o orçamento de uma produção classe A (percepção parecida, aliás, que se tem ao assistir “Guardiões da Galáxia”). Até poderia ser um novo e interessante direcionamento artístico para as próximas produções a enveredarem em adaptações de HQs de super-heróis.

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