A trama de “Triângulo” (2008) já foi contada e recontada em outras oportunidades no cinema: um cara meio sem rumo começa a trabalhar para homem bem sucedido financeiramente e ganha sua confiança. Para atrapalhar, entretanto, envolve-se (e se apaixona) pela mulher do chefe, com o casal de adúlteros planejando assassinar o marido traído. Essa história remete diretamente ao clássico romance de James Cain, “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”, que foi por duas vezes (1946 e 1981) adaptado ao cinema em ótimas versões (ambas com o título “O Destino Bate a Sua Porta”). O diferencial nessa produção alemã está no enfoque mais intimista, deixando mais evidentes os dilemas morais do que o suspense e a violência em si, elementos esses primordiais no texto original de Cain. Além disso, o diretor Christian Petzold busca aproximar de seu filme questões sociais contemporâneas, principalmente ao caracterizar o marido como um imigrante turco de modos brutais em contraposição ao casal de amantes, alemães “puros”. A verdade, todavia, é que essa busca por uma abordagem mais “séria” acaba frustrante em alguns momentos, principalmente por diluir o aspecto da culpa, tão presente no livro e nas referidas versões cinematográficas anteriores, o que diminui muito o impacto da tensão que o texto original trazia em si. Tanto que “Triângulo” se encerra de forma abrupta justamente naquele ponto da narrativa que nas obras anteriores era apenas a metade de suas respectivas histórias.
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