A pretensão de tentar contar a história real de vida de alguém de alguma importância é uma tarefa espinhosa. Afinal, nunca se terá como fazer uma reconstituição de fatos com a mesma veracidade da sua origem. O máximo que se pode conseguir nas cinebiografias é um reflexo da impressão que a figura histórica focada tem sobre as nossas mentes. No extraordinário “O Aviador” (2004), por exemplo, Martin Scorsese trabalha muito mais com a idéia de Howard Hughes e a Hollywood de seu tempo influenciado o nosso imaginário do que propriamente com a simples narração de uma série de eventos dispostos em ordem cronológica. Dentro dessa lógica, “Chico Xavier” (2010) acaba sendo uma experiência cinematográfica muito frustrante, pois o diretor Daniel Filho faz do seu filme um mero desfilar burocrático e linear de algumas das passagens mais importantes da vida do seu protagonista. Independente de se acreditar ou não na doutrina espírita, a impressão que a obra passa é a de ter simplificado uma série de questões complexas. Predomina uma assepsia inócua tanto na encenação como no retratar situações e personagens. A narrativa usa e abusa de uma fórmula: toda subtrama aparece como um desafio para a fé de Xavier e no final se resolve como prova da eficiência da doutrina. Os personagens se dividem de forma maniqueísta em dois tipos – aqueles que acreditam no espiritismo (sempre bons, tolerantes e gentis) e os que não acreditam (geralmente mesquinhos, intolerantes e agressivos).
A impressão final sobre “Chico Xavier” é da mesma ser uma produção destinada a agradar convertidos – Daniel Filho oferece ao seu público justamente aquilo que ele espera saber. Qualquer espaço para uma maior densidade dramática parece suprimido em um produto que beira a propaganda institucional.
A impressão final sobre “Chico Xavier” é da mesma ser uma produção destinada a agradar convertidos – Daniel Filho oferece ao seu público justamente aquilo que ele espera saber. Qualquer espaço para uma maior densidade dramática parece suprimido em um produto que beira a propaganda institucional.
2 comentários:
O que eu posso dizer às pessoas sobre esse filme? Leia a biografia que o Marcel Souto Maior escreveu sobre o Chico Xavier (e que - dizem, mas não acredito - roteirizou o longa). Vale mais a pena do que o preço do ingresso.
Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Um dos principais deméritos do filme é justamente não atrair interesse sobre o seu protagonista - a caracterização do mesmo é tão insossa que não dá vontade de saber mais coisas sobre ele.
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