quinta-feira, junho 17, 2010

A Estrada, de John Hilcoat ****


Se em “A Proposta” (2005) o diretor John Hilcoat havia recriado com brilhantismo os preceitos do gênero faroeste em pleno deserto australiano, em “A Estrada” (2010) ele oferece uma nova perspectiva para as produções futuristas apocalípticas. O filme traz boa parte daqueles elementos típicos para obras do estilo: visual dominado por ruínas e pela aridez, a luta pela sobrevivência diante a escassez de alimentos e infra-estrutura, grupos de indivíduos que se rendem à barbárie e, por fim, a busca pela esperança da reconstrução da civilização. O que diferencia “A Estrada” é a forma com que Hillcoat combina uma abordagem reflexiva, que beira o existencialismo, com um extraordinário domínio da ação cinematográfica. Os protagonistas, pai e filho (Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee) que percorrem uma estrada aparentemente interminável à procura de segurança, envolvem-se em diversas situações que colocam em cheque a sua moral (e, por consequência, uma série de princípios humanistas), sem que, entretanto, Hillcoat abdique de encenar seqüências de aventura com uma crueza notável. Os dilemas éticos dos personagens atingem situações limites que geram cenas que impressionam pela tensão psicológica. Nesse sentido, o momento em que o pai castiga com crueldade perturbadora um ladrão negro que havia tentado roubar-lhe o seu material de sobrevivência é antológica pela sensação de desconforto que provoca no expectador.

No mais, a sombria fotografia em tons cinzas, a sóbria utilização de efeitos especiais e a melancólica trilha sonora composta por Nick Cave e Warren Ellis complementam com perfeição a atmosfera opressiva de “A Estrada”, obra que reflete um cinema vigoroso e sem concessões, mesmo que realizado dentro dos padrões de Hollywood.

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