Lendo no papel o tipo de estrutura narrativa proposta por Ugo Giorgetti em “Solo” (2009), pode-se pensar em uma certa preguiça criativa por parte do veterano cineasta paulista. Afinal, o cerne do filme seria o registro de um longo monólogo por parte do personagem interpretado por Antônio Abujamra. O resultado final fático da obra, entretanto, está muito longe do enfadonho, burocrático e previsível. No meio das tomadas com os depoimentos de Abumjara, Gioergetti insere fundos de imagens que variam de cores de forma constante, além de trechos de fotos, animações e registros visuais diversos, estabelecendo uma dinâmica de montagem que magnetiza o espectador e que se relaciona de forma insólita, mas coerente, com o texto contundente proferido pelo protagonista.
E por falar no texto de “Solo”, ao refletir sobre o roteiro do filme acabei lembrando de uma experiência própria relacionada à temática em questão. Tenho 37 anos, e alguns poucos anos atrás estava em uma loja de vinis quando uma mãe entrou com seu filho no local. A criança tinha uns 4 ou 5 anos e olhava espantada para as paredes tomadas de LPs. Ao perguntar para mãe do que se tratava aquilo tudo, a mão respondeu: “Meu filho, antigamente as pessoas escutavam música assim...”. Devo confessar que naquele momento me senti um anacronismo ambulante. Agora se eu, um cara na faixa dos trintas anos, tive tal sensação, imagine pensar o que um senhor ao redor dos 60 ou 70 deve pensar dos padrões culturais, sociais e tecnológicos dos tempos atuais. Pois o personagem solitário de “Solo” é um retrato desse indivíduo atônito com os tempos modernos. Nas suas falas, prevalece uma gama de sentimentos diversos como espanto, melancolia, raiva, sarcasmo, não resvalando, todavia, para a caricatura. A criatura vivida por Abujamra pode se mostrar fragilizada e desconcertada, mas aos poucos adquire uma grandeza quase épica no seu descontentamento com as facilidades vazias da sociedade contemporânea. Renega o rótulo de velhinho excêntrico e auto-indulgente ao jogar na cara do espectador a sua revolta e sagacidade. Em termos metafóricos, parece refletir a posição de Giorgetti em relação à anemia criativa de boa parte das recentes manifestações artísticas brasileiras.
E por falar no texto de “Solo”, ao refletir sobre o roteiro do filme acabei lembrando de uma experiência própria relacionada à temática em questão. Tenho 37 anos, e alguns poucos anos atrás estava em uma loja de vinis quando uma mãe entrou com seu filho no local. A criança tinha uns 4 ou 5 anos e olhava espantada para as paredes tomadas de LPs. Ao perguntar para mãe do que se tratava aquilo tudo, a mão respondeu: “Meu filho, antigamente as pessoas escutavam música assim...”. Devo confessar que naquele momento me senti um anacronismo ambulante. Agora se eu, um cara na faixa dos trintas anos, tive tal sensação, imagine pensar o que um senhor ao redor dos 60 ou 70 deve pensar dos padrões culturais, sociais e tecnológicos dos tempos atuais. Pois o personagem solitário de “Solo” é um retrato desse indivíduo atônito com os tempos modernos. Nas suas falas, prevalece uma gama de sentimentos diversos como espanto, melancolia, raiva, sarcasmo, não resvalando, todavia, para a caricatura. A criatura vivida por Abujamra pode se mostrar fragilizada e desconcertada, mas aos poucos adquire uma grandeza quase épica no seu descontentamento com as facilidades vazias da sociedade contemporânea. Renega o rótulo de velhinho excêntrico e auto-indulgente ao jogar na cara do espectador a sua revolta e sagacidade. Em termos metafóricos, parece refletir a posição de Giorgetti em relação à anemia criativa de boa parte das recentes manifestações artísticas brasileiras.
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