Em um primeiro momento, a animação “O Mágico” (2010) soa obviamente como uma homenagem a Jacques Tati. Não só por encenar um roteiro inédito do comediante francês, mas também por recriar com atilado lirismo boa parte do universo “tatiano”. A começar pelo personagem-título, que reproduz com perfeição os trejeitos e esquisitices do Senhor Hulot (a mais famosa criatura concebida por Tati). Mimetiza-se também vários dos recursos estéticos de obras-primas como “As Férias do Sr. Hulot” (1953) e “Meu Tio” (1958), apostando-se no humor quase que puramente visual e na inexistência de diálogos. É interessante notar também que no roteiro há um certo teor sentimental e melancólico que evoca alguns clássicos de Charlie Chaplin como “O Garoto” (1921) e “Luzes da Cidade” (1931). O diretor Sylvain Chomet, entretanto, não abdica de aplicar seu toque pessoal em “O Mágico”, o que se evidencia na beleza do traço da produção, que varia sutilmente entre um realismo pleno de detalhes na composição de cenas e pequenos toques que beiram o impressionismo pictórico. Mais do que apenas reciclar os cânones da filmografia de Tati, “O Mágico” explora com eficácia as possibilidades criativas que o cinema mudo oferece em termos de narrativa. Por mais que haja um caráter nostálgico no filme, o seu resultado final é absolutamente atemporal.
2 comentários:
Quem costuma passar pelo meu blog sabe de minha predileção pelas animações europeias. As do Chomet não fogem à regra! Ansioso pra ver O Mágico.
cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Bem, não chego a dizer que tenho uma predileção pelas animações européias, mas não me lembro de uma animação melhor que "O Mágico" que eu tenha assistido nos últimos dois.
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