Por mais que a sinopse de “Tomboy” (2011) possa sugerir uma obra polêmica pela sua temática (menina que se faz passar por menino), a verdade é que a diretora Celine Scianna envereda por uma abordagem que passa ao largo de discussões pueris e óbvias. Não há espaço para grandes dilemas ou tragédias moralizantes – a confusão comportamental da protagonista Laure (Zoé Héran) sugere mais uma curiosidade e uma vontade juvenil de experimentar com os tabus e o status quo do que propriamente um desejo sexual. Não à toa, boa parte da trama se desenrola durante as férias escolares no playground e no bosque que ficam ao lado do condomínio residencial em que Laure mora, com tal ambiente se configurando quase como um universo paralelo, em que as convenções dos adultos e os problemas da vida parecem fazer parte de uma outra dimensão, ou seja, um ambiente propício para que a garota embarque na sua estranha brincadeira. A sobriedade da visão de Scianma encontra o complemento formal adequado em uma estética bastante naturalista, em que vigora expressivos planos longos e estáticos, além de edição precisa e de poucos cortes. De certa forma, esta forma crua de “Tomboy” retratar a infância também encontra ressonância em outra obra de língua francesa lançada em 2011, “O Garoto de Bicicleta”, o que parece vinculá-las a uma certa escola do cinema francês de produções ligadas ao universo infanto-juvenil (a mesma de clássicos como “Zero de Conduta” e “Os Incompreendidos”).
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