segunda-feira, setembro 03, 2012

Filme demência, de Carlos Reichenbach


Uma obra como “Filme demência” (1986) não é uma avis rara apenas dentro do panorama do cinema nacional. Mesmo em âmbito mundial, tal produção dirigida por Carlos Reichenbach é algo de difícil definição. Isso ocorre porque o cineasta trafega em uma área artística limítrofe, em que o popular e o erudito não apenas convivem no mesmo plano, como até acabam se fundindo em um híbrido instigante. A narrativa envereda várias vezes pelo delirante, mas sem abdicar de uma fluência clara nos seus propósitos estéticos e temáticos. O protagonista perambula pela noite paulistana (caracterizada por Reichenbach como se fosse um universo paralelo), encontra tipos esquisitos e marginais, inclusive o próprio demônio, e por fim se aventura na estrada (configurando um torto road movie). A simbologia de tal trama (com inspiração no “Fausto” de Goethe) não descamba para o hermetismo fácil, tanto que toques de um humor tipicamente popular pontuam com freqüência o roteiro (além de personalíssimas referências culturais). E é no meio desses elementos tão diversos que Reichenbach compõe cenas de uma riqueza visual impressionante, aliado a um formalismo que estabelece relação intrínseca entre uma linguagem naturalista e a ambiência fantástica.

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