segunda-feira, setembro 24, 2012

Histórias que só existem quando lembradas, de Julia Murat ***1/2


A diretora Julia Murat se aventura por caminhos perigosos em “Histórias que só existem quando lembradas” (2011). Através de uma narrativa lenta e minuciosa, investe na repetição de atos corriqueiros, quase como se as cenas buscassem uma sutil variação entre elas (de certa forma, parece uma canção que vai sendo burilada lentamente em diferentes versões). Isso não quer dizer, entretanto, que a cineasta busque simplesmente o tédio estéril. Na realidade, a reincidência de pequenos rituais entre os parcos habitantes de um vilarejo acaba gerando uma sensação de hipnótica beleza, tanto no sereno e luminoso registro visual quanto no esmiuçamento da ação e dos diálogos. A atmosfera concebida varia entre uma espécie de beatitude do cotidiano e a sensação do fantástico de um universo que se coloca à parte do real. A ideia da fantasia não se concretiza em trucagens, mas na sugestão para o olhar do espectador: será que os idosos que residem naquela localidade estão numa espécie de limbo? São imortais? Ou somente são pessoas comuns que acreditam que podem morrer apenas quando quiserem? Murat não se mostra disposta a entregar respostas fáceis para a plateia. Um dos segredos da sedução de seu filme está justamente no mistério e na falta de explicações convencionais que rondam seu roteiro.

Nenhum comentário: