A diretora Julia Murat se aventura por caminhos perigosos em
“Histórias que só existem quando lembradas” (2011). Através de uma narrativa
lenta e minuciosa, investe na repetição de atos corriqueiros, quase como se as
cenas buscassem uma sutil variação entre elas (de certa forma, parece uma
canção que vai sendo burilada lentamente em diferentes versões). Isso não quer
dizer, entretanto, que a cineasta busque simplesmente o tédio estéril. Na realidade,
a reincidência de pequenos rituais entre os parcos habitantes de um vilarejo
acaba gerando uma sensação de hipnótica beleza, tanto no sereno e luminoso
registro visual quanto no esmiuçamento da ação e dos diálogos. A atmosfera
concebida varia entre uma espécie de beatitude do cotidiano e a sensação do
fantástico de um universo que se coloca à parte do real. A ideia da fantasia
não se concretiza em trucagens, mas na sugestão para o olhar do espectador: será
que os idosos que residem naquela localidade estão numa espécie de limbo? São
imortais? Ou somente são pessoas comuns que acreditam que podem morrer apenas
quando quiserem? Murat não se mostra disposta a entregar respostas fáceis para
a plateia. Um dos segredos da sedução de seu filme está justamente no mistério
e na falta de explicações convencionais que rondam seu roteiro.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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