Minha expectativa era baixa para “Na estrada” (2012). Assim
que fiquei sabendo que Walter Salles seria responsável pela adaptação do célebre
livro de Jack Kerouac desanimei com o destino da produção. Não que eu ache
Salles um mau cineasta. No geral, ele faz filmes corretos, com exceções acima
da média (“Terra estrangeira”, “Abril despedaçado”). É o tipo de diretor que
gosta de “contar uma história” em seus filmes, o que não se mostraria em
sintonia com a obra literária de Kerouac, que é um romance que se concentra
mais em um estilo muito particular, em que o ritmo da narrativa, o seu aspecto
sensorial, que como linguagem artística remete muito ao jazz improvisado de
John Coltrane, é mais importante do que detalhes de trama. Vendo o filme,
entretanto, a conclusão que se chega é dúbia. Se compararmos diretamente com o
livro, a versão cinematográfica sai perdendo pelo tom comportado de sua dinâmica
narrativa e até por uma certa conotação
moralista do roteiro. Desligando de tal comparação, “Na estrada” ganha uma
perspectiva mais positiva e surpreendente. O trabalho de direção de fotografia
e de direção de arte é notável na composição de uma atmosfera melancólica e
algo “fora do tempo”. Já os esfuziantes números musicais, relacionados
diretamente ao jazz em diversas de suas vertentes, são filmados com paixão e
vigor. Por fim, destacam-se ainda as boas composições dramáticas de seu elenco,
com destaque para o jovem trio principal de protagonistas
na sua exata equação de naturalismo e estilização icônica. Assim, por mais que
possa decepcionar os apreciadores de Kerouac, “Na estrada” acaba representando
um passo expressivo na filmografia de Salles.
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