segunda-feira, março 21, 2016

Cemitério do esplendor, de Apichatpong Weerasethakul ***1/2

A filmografia do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul revela uma insólita coerência em suas concepções artísticas. Seus filmes se vinculam ao gênero fantástico, mas são quase que completamente destituídos dos clichês narrativos habituais a tais produções. De forma rara o cineasta se vale de algum efeito especial, fazendo com que as suas histórias versando sobre lendas e fantasmas se desenvolvam dentro de um formato naturalista, com direito inclusive a uma encenação que evoca o documental na sua crueza de caracterização de personagens e situações. O elemento fantástico se insere de forma fluente, como se fosse intrínseco àquele universo. Nesse conjunto de aparentes contrastes, resulta obras de rara beleza visual, narrativa poética e atmosferas hipnóticas no seu minimalismo. “Cemitério do esplendor” (2015) é um exemplar expressivo desse peculiar estilo de Weerasethakul. É provável que seja o menos hermético de seus trabalhos – ainda assim, não há concessões na sua abordagem que dispensa truques óbvios e baratos para contar a trama de soldados narcolépticos que são possuídos por antigos espíritos de guerreiros. Não há a necessidade de ambientações épicas ou reviravoltas dramáticas de roteiro. Mesmo quando o aspecto emocional se manifesta com mais força, é sempre dentro de limites sutis que impedem que se caia no sentimentalismo excessivo. A narrativa flui dentro de um misto de serenidade e estranheza, prevalecendo planos-sequência que desconcertam nas mínimas variações de nuances imagéticas. Numa impressão geral, é como se espectador entrasse dentro de um registro cotidiano de uma fábula ou de um sonho. Nessa síntese entre a casualidade e o fantástico reside a grande força criativa de “Cemitério do esplendor”.

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