terça-feira, março 01, 2016

Chatô, de Guilherme Fontes 1/2 (meia estrela)

O que vai se fazer na presente resenha não é um exercício jornalístico, procurando informar fatos sobre “Chatô” (2015), mas sim a impressão sensorial daquele que escreve sobre o filme. Dito isso, a percepção que se tem após o final da produção é que o diretor Guilherme Fontes havia elaborado inicialmente uma narrativa linear e tradicional a expor os principais eventos da vida de seu biografado, Assis Chateaubriand, dono de um dos maiores impérios de imprensa da história do Brasil e figura extremamente polêmica na trajetória política do país. Ao constatar a fragilidade formal de sua obra, Fontes inseriu sequências entre o onírico e o delirante, remetendo bastante ao clássico musical “O show deve continuar” (1979). Ocorre, entretanto, que Fontes não é Bob Fosse e o resultado final de “Chatô” é uma deplorável mixórdia estética e temática. A pretensa formatação farsesca parece mais uma desculpa para a incapacidade do diretor em obter dinâmica narrativa e concepção visual aceitáveis. Tudo dá errado no filme: encenação truncada beirando o amador, direção de arte qualquer nota, fotografia sem qualquer rigor imagético, elenco de interpretações que oscilam entre o over irritante e o piloto automático, edição desengonçada, roteiro que simplifica banalmente complexas situações históricas e reduz importantes personagens a caricaturas. Ou seja, não é prazeroso ou mesmo inquietante assistir à produção, e nem como registro histórico relevante “Chatô” se presta. O desastre do conjunto artístico geral faz entender por quê Fontes demorou tanto para lançar tal trabalho – estava com vergonha do abacaxi que tinha em mãos. No final das contas, o melhor mesmo é ficar com a sensacional biografia de Chateaubriand escrita por Fernando Morais, essa sim uma obra memorável sobre a figura em questão.

Um comentário:

Régis disse...

Putz, dessa vez discordo frontalmente. Chatô é brilhante!