quarta-feira, março 16, 2016

É o amor, de Paul Vecchiali ***

A equação artística de “É o amor” (2015) obedece a uma lógica muito particular do diretor francês Paul Vecchiali. Alguns elementos básicos da narrativa até obedecem a uma concepção realista, mas aos poucos eles se desvanecem em nome de uma encenação entre o delirante e o estilizado ao extremo. Literatura e teatro se incorporam dentro desse insólito método com uma estranha naturalidade, fazendo com que por vezes uma mesma ação seja reinterpretada para enfatizar um subjetivismo poético e exasperado. Dentro de tais concepções, a obra de Vecchiali evoca referências cinematográficas passadistas, que nos últimos tempos até pareciam um tanto distantes, como coreografias desajeitadas que lembram velhos musicais, uma aura sombria e melancólica que se associam a filmes de horror psicológico de algumas décadas atrás, trejeitos formais típicos da Nouvelle Vague. Esse caldo de influências acentua uma ambígua visão estética e temática, em que uma atmosfera de exagerado romantismo convive com uma ótica bastante amarga sobre as relações amorosas. Para embarcar nessa viagem sensorial de “É o amor”, o espectador tem de se desgarrar um pouco de clichês e fórmulas usuais, mas por vezes essa experiência pode ser gratificante diante da sensibilidade e criatividade à flor-da-pele de Vecchiali.

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