segunda-feira, março 07, 2016

Ela volta na quinta, de André Novais de Oliveira ***1/2

Nos últimos anos, há uma vertente no cinema brasileiro que enveredou por caminhos artísticos mais ousados e radicais tanto na concepção quanto na sua execução. Esse radicalismo não estaria concentrado necessariamente no hermetismo da narrativa, mas sim na utilização de meios e recursos que fogem daqueles que normalmente são usados na grande maioria das produções. “Ela volta na quinta” (2014) é um reflexo dessa tendência forte em algumas obras nacionais. O diretor André Novais de Oliveira criou uma trama baseado em experiências cotidianas, em que os desdobres do roteiro obedecem a uma lógica natural e de caráter humanista. Dentro desse espírito temático, suas escolhas formais revelam uma desconcertante e notável coerência. Tendo parentes, amigos e conhecidos como intérpretes de seu pequeno drama familiar, Novais de Oliveira cria um conto moral repleto de expressiva carga simbólica. Mesmo que seus atores sejam amadores, ele consegue criar uma encenação cativante através de pequenos gestos, diálogos prosaicos e expressões que se alternam entre a melancolia e a resignação. O cineasta tem notável senso imagético – a direção de fotografia apresenta uma eficiente combinação entre simplicidade e requinte visuais, principalmente em seus expressivos planos-sequência fixos.


Há um momento muito revelador das intenções estéticas do diretor em “Ela volta na quinta”, que é a sequência em que os irmãos André e Renato Novais de Oliveira ficam assistindo a montagens de vídeos no Youtube, em que o primeiro disseca alguns truques de edição e mostra os resultados cômicos para o irmão. É como se o cineasta deixasse claro um dos principais fundamentos artísticos do seu filme, que é o de incorporar à encenação trechos documentais e mesmo o reaproveitamento de temas musicais já existentes. Esse jeito guerrilheiro de fazer cinema cria uma atmosfera visceral e cativante para o espectador, tornando-o ainda mais cúmplice de uma história que dispensa apelações emocionais e simplesmente investe na crueza e na verdade das sensações e sentimentos humanos.

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