terça-feira, março 15, 2016

Labirinto de mentiras, de Giulio Ricciarelli *

Recentemente, o cineasta britânico Peter Greenaway deu uma declaração bem contundente sobre o atual estado criativo do cinema: “o cinema está exausto de si”. Por mais que tal afirmação possa ser polêmica ou discutível, ao se assistir a uma obra como “Labirinto de mentiras” (2014) dá para entender o desencanto de Greenaway, pois o filme em questão do diretor Giulio Ricciarelli é de uma irrelevância artística espantosa. Clichês narrativos são jogados em cena de forma nada imaginativa – não há uma única sequência que sugira alguma transcendência estética ou mesmo temática. A encenação é engessada e artificial em excesso, faltando profundidade e alguma verdade na caracterização de situações e personagens. O fato da temática se relacionar ao Holocausto é usado como uma espécie de carta branca para Ricciarelli a lhe dar uma pretensa legitimidade para não ousar um milímetro sequer no seu formalismo dolorosamente óbvio. Na cabeça do diretor, é provável que passe a ideia de que em produções sobre a 2ª Guerra Mundial não é possível injetar vigor e criatividade, devendo prevalecer uma equivocada e hipócrita abordagem solene e maniqueísta sobre os fatos históricos. A precisa ação alucinada de “O resgate do soldado Ryan” (1998), a ironia perversa de “Bastardos inglórios” (2009) e mesmo o elegante humanismo de “Diplomacia” (2014) são desmentidos enfáticos das concepções conformistas e medíocres de “Labirinto de mentiras”.

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