segunda-feira, março 28, 2016

O regresso, de Alejandro González Iñarritu ***

A sequência de abertura de “O regresso” (2015) é promissora – com edição de poucos cortes e encenação vigorosa, o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu concebe tomadas de ação alucinada ao retratar uma batalha entre caçadores de pele e índios no interior selvagem dos Estados Unidos na primeira metade do século XIX. Se Iñarritu mantivesse seu filme nessa levada, haveria a forte possibilidade de se ter uma obra antológica no gênero aventura. Mas para as pretensões artísticas do cineasta em questão, talvez isso fosse muito pouco... O fato é que a narrativa do filme envereda em vários momentos por uma atmosfera reflexiva, por vezes até caindo no metafísico. E assim, dá-lhe tomadas com personagens olhando para o horizonte, narração em off de texto pretensamente poético, estética new age em algumas tomadas. Essa conjugação entre aventura de época e drama existencial não chega a ser exatamente uma novidade, vide, por exemplo, o extraordinário “O novo mundo” (2005). Ocorre, entretanto, que Iñarritu se mostra bem longe de atingir o equilíbrio formal e temático que Terrence Mallick obteve em sua mencionada obra. “O regresso” parece muito mais refletir uma espécie de indecisão criativa de seu criador entre o faroeste naturalista casca grossa e o épico existencialista, fazendo com que o casamento entre esses dois polos narrativo não atinja um ponto de fluidez satisfatório. Mesmo o fato da longa duração da produção não implica necessariamente em uma caracterização psicológica mais aguda de personagens e situações. Nesse sentido, os momentos em que se manifestam os delírios e devaneios oníricos do protagonista Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) são apenas enfadonhos e marcados por um simbolismo raso. A verdade é que “O regresso” mostra a que veio quando Iñarritu deixa o cerebralismo fajuto de lado e envereda em boas cenas de tiroteios, perseguições a cavalo e brutais duelos com facas e machadinhas, chegando até a fazer lembrar trabalhos marcantes no gênero como “O último dos moicanos” (1992) ou “Apocalypto” (2006).

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