segunda-feira, abril 04, 2016

A princesa da França, de Matias Piñeiro ***1/2

O diretor argentino Matias Piñeiro volta a usar em “A princesa da França” (2014) maneirismos estéticos e temáticos que já apareciam em obra anterior sua, “Viola” (2012). Só que nessa produção mais recente a impressão é de que ele aprofunda e radicaliza ainda mais a sua insólita proposta artística. A abertura do filme já deixa claro as suas intenções – num belo e longo plano-sequência, é mostrado uma partida de futebol-cinco numa quadra em que duas equipes de cores diferentes vão se tornando um time só. Ou seja, em “A princesa da França” é a vez do surrealismo dar às caras com força considerável. Nesse viés, a narrativa fica fragmentada, com Piñeiro filmando uma mesma situação do roteiro por diversas vezes, sendo que em cada tomada o direcionamento dos fatos é diverso, assim como as próprias atitudes dos personagens. É como se o cineasta burilasse soluções narrativas e ficasse com todas aos mesmo tempo. Tais escolhas formais podem parecem estranhas, mas acabam revelando forte sintonia com outros aspetos característicos da estética de Piñeiro como sua encenação livre e vigorosa, as caracterizações do elenco que primam por uma esquisita síntese entre o nonsense e a profundidade dramática, o cruzamento metalinguístico entre os ensaios de uma peça teatral e a vida pessoal dos seus atores, a direção de fotografia seca e elegante que evoca uma atmosfera quase documental. E talvez ainda resida boa parte da essência artística do cinema de Piñeiro: a impressão de se estar assistindo a um registro beirando o onírico do cotidiano.

Nenhum comentário: