quinta-feira, abril 14, 2016

Vida cigana, de Emir Kusturica ***1/2

Para aqueles habituados ao padrão artístico do diretor sérvio Emir Kusturica, não haverá grandes surpresas em “Vida cigana” (1988). Está lá a característica combinação de melodrama histórico, crítica social, personagens esquisitos, humor entre o grotesco e o poético, estética exuberante e uma trilha sonora repleta de temas regionais que transitam entre o dançante e o melancólico. Ainda assim, somente um cineasta criativo como Kusturica consegue dar uma liga tão coesa e impactante para tais elementos. A trama que narra a trajetória de um jovem cigano em busca de uma vida melhor pode soar por vezes clichê em algumas de suas soluções. Ocorre, entretanto, que perpassa sempre uma atmosfera de sarcástica ironia a demolir os valores pequenos burgueses da sociedade ocidental, principalmente na relação simbólica que se estabelece entre capitalismo e crime para evidenciar a tênue linha que os separas. Para embalar essa desiludida crônica sobre pequenos marginais e perdedores, Kusturica investe num formalismo que abarca por fezes o viés bufante operístico de Fellini e em outros momentos aquele misto de escrotidão e lirismo do clássico “Feios, sujos e malvados” (1976). Poucos anos depois, Kusturica aperfeiçoou esse particular estilo e entregou a sua obra-prima, “Underground” (1995).

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