sexta-feira, abril 08, 2016

Permanência, de Leonardo Lacca **1/2

Há algo de anacrônico que permeia a atmosfera de “Permanência” (2014) de maneira constante. A direção glacial de Leonardo Lacca nunca arrebata o espectador, mas se revela discretamente sedutora pela elegância com que conduz a narrativa, impedindo que a obra caia em excessos sentimentais ou maneirismos formais óbvios. Os dilemas existenciais do protagonista Ivo (Irandhir Santos) não representam novidades ou algo de grande impacto, até porque há muito de sugestivo na encenação proposta por Lacca. Dá para perceber de leve que Ivo traz dentro de si alguma espécie de insatisfação, uma pendência mal resolvida ou mesmo um desconforto com as veleidades da vida pequeno-burguesa. Ao reencontrar um amor do passado, Rita (Rita Carelli), seu silencioso equilíbrio emocional parece se abalar. Nesse pequeno universo, tudo parece ter um ar blasé e distanciado, como se Lacca buscasse uma conexão com as situações e personagens de alguns dos melhores dramas existencialistas de Michelangelo Antonioni. Ainda que o diretor brasileiro não tenha a mesma classe artística do grande mestre do cinema italiano, “Permanência” até consegue ter um curioso encanto em determinadas sequências, principalmente nas cenas que envolvem um conteúdo erótico e na química interpretativa entre Irandhir Santos e Rita Carelli. O estilo passadista da produção por vezes impede que a narrativa efetivamente decole, mas também não deixa de ser um atrativo particular pelo seu caráter referencial.

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