terça-feira, abril 05, 2016

Para minha amada morta, de Aly Muritiba **

Nas primeiras sequências de “Para minha amada morta” (2015), há elementos e indícios promissores para a produção – as premissas do roteiro sugerem caminhos contundentes para a trama, o formalismo apresenta algumas nuances interessantes em termos de atmosfera e tratamento visual, a abordagem narrativa revela uma certa sobriedade. Com o desenrolar da história, entretanto, essas boas impressões iniciais acabam se diluindo de maneira frustrante. O que era para ser tenso e perturbador acaba se configurando apenas como enfadonho. Faltou coragem artística para o diretor Aly Muritiba na forma com que acomoda suas soluções temáticas e estéticas. É claro que é complicado querer dizer como deveriam ser os rumos certos de um roteiro, mas a verdade é que para ter uma coerência existencial nos rumos da trama era necessário que as resoluções fossem mais extremas e menos conciliatórias. Deveria ter mais violência, sexo e sordidez para que os dilemas e contradições do protagonista Fernando (Fernando Alves Pinto) fossem mais palpáveis e efetivamente perturbadores. Mesmo no relacionamento entre os personagens não há uma concisão dramática e um aprofundamento na dinâmica entre eles, ficando tudo num nível muito superficial. A conclusão do filme espelha com fidelidade os rumos oscilantes da abordagem de Muritiba – a decisão de Fernando em deixar tudo para lá podia ter sido tomada logo no início do filme, fazendo com que toda a sua trajetória ao longo da trama pareça sem sentido e inútil, revelando ainda um moralismo incômodo. Se for para se comparar dentro do gênero suspense no âmbito nacional, falta para “Para minha amada morta” a tensão pelo inesperado de “Quando eu era vivo” (2014) e a ambiência de sensualidade exasperada e violência psicológica de “O lobo atrás da porta” (2013), ou seja, características que poderiam tornar o trabalho de Muritiba uma experiência memorável para o expectador.

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