quarta-feira, abril 13, 2016

O movimento, de Benjamin Naishtat ***1/2

Se Alceu Valença realizou uma espécie de inventário emocional e cultural da formatação existencial do sertão nordestino em “A luneta do tempo” (2014), em “O movimento” (2015) o diretor Benjamin Naishtat apresenta a sua visão sombria sobre a estruturação sócio-política da Argentina. Em ambas as obras as narrativas se adaptam dentro de abordagens que buscam uma síntese entre a linguagem naturalista e o viés delirante e estilizado. No caso da produção portenha, essa formatação se expande a partir da utilização de recursos típicos do teatro do absurdo e da evocação estilística dos gêneros do faroeste e do expressionismo alemão. O resultado dessa inusitada combinação de referências é perturbador. A encenação concebida por Naishtat valoriza os diálogos enigmáticos e repletos de estranhas simbologias e uma composição cênica icônica. A direção de fotografia em preto e branco cria uma ambientação sombria digna de um pesadelo na ênfase no uso de jogos de sombras (é extraordinária a forma com que os atores se movimentam dentro de uma densa escuridão, inclusive nas oníricas cavalgadas à noite). O elenco demonstra forte sintonia com as escolhas artísticas de Naishtat, com interpretações que incorporam de maneira fluente maneirismos típicos da vertente anti-naturalista. Todas essas soluções estéticas se mostram como a moldura ideal para um agudo roteiro que disseca de maneira impiedosa a violência e a hipocrisia que acompanharam o desenvolvimento da sociedade argentina, o que fica evidente no genial truque temático da conclusão “O movimento”, quando passado e presente se aproximam como se fossem uma coisa só.

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