segunda-feira, abril 25, 2016

A bruta flor do querer, de Dida Andrade e Andradina Azevedo ***

É bastante evidente em “A bruta flor do querer” (2013) um forte teor narcisista como um dos principais motes criativos da obra. A configuração da trama e da narrativa obedece a um fluxo memorialista e subjetivo dos diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo. Se por um lado essa tendência de olhar para o próprio umbigo leva o filme por vezes para um viés artístico autocomplacente, é inegável também que representa um olhar autoconsciente de seus cineastas para sua arte e para suas próprias vida, rendendo para a produção aquilo que ela tem de mais memorável e vigoroso. Os parcos recursos de que Andrade e Azevedo dispõem são aproveitados quase ao máximo em suas possibilidades – tal precariedade se incorpora à narrativa como razão existencial, dando sentido ao filme tanto em termos temáticos quanto num formalismo que revela sensibilidade e sofisticação. Isso pode ser percebido em detalhes sutis como a direção de fotografia rústica e expressiva, as atuações maneiristas e intensas do elenco, as boas sacadas no uso de canções alheias e nos temas próprios da trilha sonora, os jogos metalinguísticos. Mesmo o manjado tripé sexo-drogas-rock and roll (com toques de MPB, jazz e música clássica) rende algumas sequências bastante perturbadoras e pungentes pela forma impactante e sincera com que são filmadas. Se com o tempo Andrade e Azevedo conseguirão amadurecer esse traço pessoal e autoral, apenas se adequarem a um formato mais convencional de fazer cinema ou simplesmente sumirem do mapa da produção nacional é algo a se conferir. O que se tem no presente é que com “A bruta flor do querer” conseguiram gerar uma obra capaz de grudar no imaginário do espectador de mente mais aberta, o que não deixa de ser uma façanha considerável.

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