quinta-feira, abril 28, 2016

Phoenix, de Christian Petzhold ***1/2

Num primeiro momento, a premissa inicial e mesmo os desdobramentos da trama de “Phoenix” (2014) podem sugerir algo de novelesco. A história parece rocambolesca e um tanto exagerada: a judia Nelly (Nina Hoss), desfigurada por um tiro que recebeu em um campo de concentração, retorna para a Alemanha pouco após o fim da 2ª Guerra, faz uma cirurgia plástica que lhe dá um novo rosto, sai em busca do marido (Ronald Zehrfeld), que acredita que ela está morta, e ao encontrá-lo acaba descobrindo o seu verdadeiro e questionável caráter. O fascinante no filme é a forma com que o diretor Christian Petzhold transforma essa estrutura de melodrama em uma elegante narrativa, combinando um requintado formalismo com uma sobriedade emocional admirável. Mesmo que o roteiro possa sugerir em alguns momentos arroubos sentimentais, o rigor estético da produção é tão preciso que faz com que a narrativa permaneça equilibrada. Essa equação artística baseada na contenção e na sutileza gera uma obra de atmosfera repleta de nuances que se situam entre o perturbador e o encantador. Repare-se, por exemplo, como a canção “Speak low” se insinua em trechos chaves da trama e se transforma numa peça fundamental no desfecho da história, ou como as noções de sensualidade e tragédia convivem e se misturam dentro da encenação detalhista proposta por Petzhold. Essa abordagem do cineasta é tão rica em seus elementos e referências que faz com que mesmo aquela ideia inicial de uma trama de tons novelescos acabe se transportando para uma dimensão fortemente simbólica, a retratar um país em crise de identidade que se obriga a encarar as verdades cruéis de sua essência para poder seguir em frente.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Um dos grandes filmes do ano passado.