quarta-feira, agosto 04, 2010

Caro Francis, de Nelson Hoineff **1/2


As minhas expectativas para o documentário “Caro Francis” (2009) eram altas. Para começar, há anos eu era leitor assíduo da coluna “Diário da Corte”, escrita pelo protagonista do filme, jornalista Paulo Francis, além de assistir às suas hilárias intervenções no programa “Manhattan Connection”. A força de Francis não estava exatamente nos pontos de vista que defendia (bastante discutíveis em várias oportunidades), mas sim na sagacidade de seus argumentos e na tremenda bagagem cultural que demonstrava nas suas fundamentações. Ler ou ouvir Paulo Francis abria os horizontes para descobrir livros, filmes, peças, ideias e afins. Ou seja, o cara era um grande catalisador cultural. Por outro lado, “Caro Francis” parecia promissor pelo fato do seu realizador, Nelson Hoineff, ser o responsável pelo impactante “Alô Alô Terezinha” (2009), um retrato cru e irônico do apresentador Chacrinha. O resultado final de “Caro Francis”, entretanto, é decepcionante. É claro que há vários registros de arquivos interessantes com Francis dando sua particular visão de mundo, assim como se mostrando um tremendo showman, o que por si só já valeria assistia à produção. O problema do filme é que não há uma exposição de contradições e uma abordagem mais isenta como havia em “Alô Alô Terezinha”. O que vemos é uma obra quase de louvação à figura de Francis e que se atém várias vezes em depoimentos insossos, monótonos ou tendenciosos que tiram muito da fluência narrativa de “Caro Francis”. Chega-se ao cúmulo, por exemplo, de se gastar vários minutos na figura de uma falecida gatinha que Francis gostava muito, com a viúva dele lendo uma longa carta descrevendo a agonia do bichano. E em episódios como o conflito final entre o biografado e a Petrobrás, sente-se muito mais uma vontade em defender Francis do que mostrar realmente o que ocorreu naquela situação.

Mesmo com todas essas restrições, todavia, “Caro Francis” é uma obra imperdível como documento histórico no sentido de mostrar uma série de fatos e personagens que foram decisivos na formação cultural do Brasil nessas últimas décadas. De certa forma, os defeitos do filme não deixam de ser esclarecedores no sentido de refletirem conflitos tanto artísticos quanto ideológicos que são inerentes no nosso panorama político e intelectual.

Um comentário:

Unknown disse...

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