A diretora neozelandesa Jane Campion navega em águas perigosas dentro do gênero filme romântico de época em “Brilho de Uma Paixão” (2009). O que poderia fazer com que ela caísse nas armadilhas de uma narrativa engessada por algumas das ortodoxias desse tipo de filme, entretanto, acaba superado por um senso narrativo e visual notável da diretora. O drama romântico do amor impossível entre o poeta ultra-romântico John Keats (Ben Wisham) e a jovem Fanny Brawne (Abbie Cornish) é explorado de forma dúbia por Campion. Se por um lado se evidencia o aspecto da paixão platônica e idealizada, por outro há uma abordagem em que o relacionamento é visto por um lado naturalista, quase biológico, relacionando o sentimento com a imaturidade dos amantes e também com um caráter patológico, como se houvesse também uma ligação com a própria doença (a tuberculose) que matou Keats. Campion acrescenta também outras referências visuais em “Brilho de Uma Paixão” que iluminam a confusão de sentimentos e sensações reprimidos que se apresentam na trama. Uma delas seria a utilização da figura infantil da irmã caçula de Fanny, criança que espelha a diversidade do humor da protagonista. Essa manipulação estética de uma personagem criança não é novidade para Campion, que já havia feito isso com brilhantismo em “Um Anjo em Minha Mesa” (1990) e “O Piano” (1993). Além disso, a cineasta compõe outras sequências memoráveis pela sua beleza plástica, com destaque para aquelas da brincadeira de estátua entre os jovens amantes com a já mencionada irmã caçula e a das borboletas tomando o quarto de Fanny.
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