Confesso que o meu primeiro contato com a música de Stravinsky foi de maneira enviesada. Em “Israel”, faixa de abertura do álbum ao vivo “Nocturne” (1983) da banda gótico-punk Siouxsie and The Banshees, havia um trecho da “Sagração da Primavera” que servia quase como uma breve vinheta. Mesmo que de duração rápida, aqueles arranjo e melodia épicos e sinistros nunca saíram da minha mente.
Algumas das primeiras tomadas de “Coco Chanel & Igor Stravinsky” (2009) já revelam logo de cara que não estamos diante de uma mera cinebiografia: uma câmera inquieta voa no meio da primeira apresentação da “Sagração da Primavera” em Paris, flagrando vários detalhes – a evolução do tema musical de acordo com a entrada e participação de cada instrumento, o registro do balé coreografado por Nijinsky e as reações exaltadas e contrastantes na platéia. No meio dessa confusão, pode-se perceber Coco Chanel (Anna Mouglalis) de seu camarote, envolta em sombras (o tom sombrio da fotografia lembra bastante o extraordinário trabalho de Gordon Willis em “O Poderoso Chefão 3”). Tal abertura revela desde o início que “Coco Chanel & Igor Stravinsky” envereda muito mais por uma realidade idealizada, em que os truques estéticos realçam o aspecto de pessoas e fatos relevantes que compõem um imaginário coletivo em detrimento daquilo que é factual. De certa, a mesma abordagem pela qual Martin Scorsese enveredou na obra-prima “O Aviador” (2004).
Mesmo que se formate dentro de um esquema de melodrama e com alguns dados efetivamente históricos, “Coco Chanel & Igor Stravinsky” nunca abandona o tom da verdade que é pervertida pela fantasia. Até porque não houve uma definitiva conclusão de que os protagonistas tenham tido um relacionamento amoroso na vida real. Mesmo que se trate de ficção e se aprofunde em estilizações, entretanto, o filme acaba sendo fiel no sentido de dar uma ideia muito aproximada da dimensão da importância e influência de Chanel e Stravinsky para a cultura e o comportamento ocidentais do início do século XX até os dias de hoje.
A ousadia do tipo de narrativa adotado pelo cineasta Jan Kounen em “Coco Chanel & Igor Stravinsky” se cristaliza na seqüência final da produção, quando a já consagrada “Sagração da Primavera” recebe uma nova apresentação em Paris. Nestas cenas derradeiras, Kounen encadeia uma série de tomadas que evocam uma estranha mistura entre o onírico e o delírio, em que passado, presente e futuro vão se intercalando de forma desconcertante, numa conclusão de raro impacto sensorial que parece absorver um pouco da atmosfera difusa da filmografia de David Lynch.
Algumas das primeiras tomadas de “Coco Chanel & Igor Stravinsky” (2009) já revelam logo de cara que não estamos diante de uma mera cinebiografia: uma câmera inquieta voa no meio da primeira apresentação da “Sagração da Primavera” em Paris, flagrando vários detalhes – a evolução do tema musical de acordo com a entrada e participação de cada instrumento, o registro do balé coreografado por Nijinsky e as reações exaltadas e contrastantes na platéia. No meio dessa confusão, pode-se perceber Coco Chanel (Anna Mouglalis) de seu camarote, envolta em sombras (o tom sombrio da fotografia lembra bastante o extraordinário trabalho de Gordon Willis em “O Poderoso Chefão 3”). Tal abertura revela desde o início que “Coco Chanel & Igor Stravinsky” envereda muito mais por uma realidade idealizada, em que os truques estéticos realçam o aspecto de pessoas e fatos relevantes que compõem um imaginário coletivo em detrimento daquilo que é factual. De certa, a mesma abordagem pela qual Martin Scorsese enveredou na obra-prima “O Aviador” (2004).
Mesmo que se formate dentro de um esquema de melodrama e com alguns dados efetivamente históricos, “Coco Chanel & Igor Stravinsky” nunca abandona o tom da verdade que é pervertida pela fantasia. Até porque não houve uma definitiva conclusão de que os protagonistas tenham tido um relacionamento amoroso na vida real. Mesmo que se trate de ficção e se aprofunde em estilizações, entretanto, o filme acaba sendo fiel no sentido de dar uma ideia muito aproximada da dimensão da importância e influência de Chanel e Stravinsky para a cultura e o comportamento ocidentais do início do século XX até os dias de hoje.
A ousadia do tipo de narrativa adotado pelo cineasta Jan Kounen em “Coco Chanel & Igor Stravinsky” se cristaliza na seqüência final da produção, quando a já consagrada “Sagração da Primavera” recebe uma nova apresentação em Paris. Nestas cenas derradeiras, Kounen encadeia uma série de tomadas que evocam uma estranha mistura entre o onírico e o delírio, em que passado, presente e futuro vão se intercalando de forma desconcertante, numa conclusão de raro impacto sensorial que parece absorver um pouco da atmosfera difusa da filmografia de David Lynch.
3 comentários:
Passou no Festival Varilux aqui no RJ e eu perdi a chance de ver. Desde então estou procurando pra baixar, mas sem sucesso. Vi aquele outro com a Audrey Tatou fazendo a Coco Chanel (e, confesso, não achei grande coisa).
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
"Coco Chanel e Igor Stravinsky" é muito superior ao burocrático "Coco Antes de Chanel".
Sinceramente, acho um exagero chamar "O Aviador" de obra-prima. No máximo é impressionante visualmente, e só. É um filme longo demais e cansativo, que celebra um personagem controverso, sem tratar os diversos aspectos questionáveis de sua trajetória. "Menina de Ouro" foi um filme muito melhor, que venceu merecidamente o Oscar.
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