Mesmo não tendo a contundência formal é temática de obras como “Michael Collins” (1996), “Nó na Garganta” (1997) e “Fim de Caso” (1999), “Ondine” (2009), produção recente de Neil Jordan, ainda consegue mostrar bastante do estilo particular de seu realizador. Ao longo de boa parte de sua trama, a narrativa se mostra sinuosa, trafegando com certa sutileza e ambiguidade entre a fantasia e a realidade. A forma com que Jordan retrata personagens e situações acentua ainda mais tal aspecto dúbio, com uma fotografia que explora enevoadas paisagens marítimas quase como se as mesmas fizessem parte de universo mágico ou paralelo, assim como a enigmática Ondine (Alicja Bachleda) recebe uma caracterização difusa entre o etéreo e o carnal. É fascinante ainda a aura de atemporalidade que permeia o filme, em que velhas lendas regionais convivem de forma harmoniosa com referências de modernidade. Assim, por exemplo, o mito do canto da sereia pode ser relacionar com o rock climático e abissal da banda islandesa Sigur Rós. No geral, o cineasta sugere que o elemento fantástico está muito mais no olhar do que numa definição conceitual. “Ondine”, entretanto, perde bastante do impacto no seu terço final, justamente quando procura uma explicação “coerente” para os mistérios que rondam sua trama, com a atmosfera de ambivalentes planos de realidade se esvanecendo.
2 comentários:
Eu tava na dúvida se via esse! Voc~e agora me deixou curioso.
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Como eu disse no meu comentário, não é um Neil Jordan dos mais expressivos, mas mesmo assim é um bom filme.
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