sexta-feira, dezembro 10, 2010

Os Outros Caras, de Adam McKay ****


As cenas iniciais de “Os Outros Caras” (2010) não são apenas uma homenagem/sacanagem aos clichês básicos ao gênero policia (com direito, inclusive, a uma dupla de tiras na linha “Máquina Mortífera”). O diretor Adam McKay chega ao ponto, inclusive, de satirizar os piores defeitos do cinema de ação moderno ao picotar a narrativa com edição estilo “video-clip” e câmera tremida. A ironia do filme não se restringe, entretanto, a simples paródia. Um de seus grandes méritos é justamente adequar o pique cômico alucinado dentro de uma trama policial quase clássica. Vários momentos do filmes são quase esquetes de piadas, mas formatados com coerência dentro de um roteiro bem delineado em termos de estrutura, estabelecendo ainda sofisticadas relações com a temática dos crimes financeiros tão típicos na sociedade americana deste século. Vale também mencionar que a porção “aventura” de “Os Outros Caras” é primorosa no sentido do domínio da ação por parte de McKay, com o diretor manipulando com destreza uma porção considerável de trucagens básicas e essenciais para produções desta linha, com destaque para câmera lenta com influência de Sam Peckinpah.

Os fãs de McKay e de seu comparsa Will Ferrell podem até estranhar o fato de que aquele estilo de comédia mais nonsense de obras como “O Âncora” (2004), “Ricky Bobby – A Toda Velocidade” (2006) e “Quase Irmãos” (2008) adquira um tom mais sereno e subordinado aos desdobramentos do roteiro. Mesmo assim, há sequências brilhantes no filme que trazem bastante daquele elemento de improvisação e espontaneidade tão caro na forma de Ferrell atuar. E Mark Walberg, mesmo não tendo o mesmo carisma colossal para comédia de John C. Reilly (parceiro de Ferrell em “Ricky Bobby” e “Quase Irmãos”), surpreende por conseguir entrar na sintonia siderada de seus companheiros.

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