Fazer um documentário contando a história do skate no Brasil que não se dirija apenas a um público de iniciados do esporte e consiga manter o interesse de platéias diversas não é uma tarefa fácil. E é justamente o que o cineasta Daniel Baccaro conseguiu realizar em “Vida Sobre Rodas” (2010). Uma das grandes sacadas que ele teve para garantir a universalidade de seu filme foi relacionar a trajetória do skate com os momentos históricos do país. Assim, os primeiros passos do esporte em terras brasileiras (início da década de 80) correspondem também aos desejos de boa parte da sociedade nativa por novas manifestações culturais e comportamentais depois de anos de repressão e censura oriundas do regime ditatorial. As dificuldades dos skatistas em conseguir patrocinadores se relacionam com etapas de dificuldades econômicas para a nação. Uma divisão entre praticantes oriundos de classes sociais mais humildes e outros vindos de camadas de maior poder aquisitivo não deixam de refletir a própria divisão de classes no Brasil. Para compor esse mosaico histórico, Baccaro se valeu de depoimentos atuais e de uma ampla gama de imagens de arquivo, não só de redes de televisão como também de filmagens caseiras (muitas delas feitas por pais dos skatistas focados). Assim, alguns dos atuais multicampeões nacionais e internacionais do skate nacional têm apresentados os seus primeiros esforços no esporte (assim como seus primeiros tombos) e consequentes evoluções técnicas. Baccaro também focaliza com acerto o lado humano da questão, explorando tanto o lado irônico como o dramático da história pessoal dos maiores nomes do skate. E tudo isso embalado por uma trilha sonora cancioneira dos sonhos (boa parte da grana investida no filme deve ter sido para pagar direito autoral das músicas): Dead Kennedys, Sex Pistols, Agent Orange, Beastie Boys, Fugazi, New Order, Cure, Inocentes, Garotos Podres, entre outros.
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