segunda-feira, dezembro 06, 2010

Senna, de Asif Kapadia ***1/2


Ao concentrar a sua narrativa primordialmente na trajetória do seu protagonista na Fórmula 1, “Senna” (2010) revela muito mais uma intenção de louvação à figura do piloto do que uma exposição objetiva dos fatos. É inegável, entretanto, que faz esse discurso laudatório com muita competência. O diretor Asif Kapadia teve acesso a uma gama considerável de registros audiovisuais - corridas, depoimentos, reuniões entre dirigentes de federações e grandes prêmios com os pilotos – e combinou todo esse material de forma engenhosa, fazendo de Ayrton Senna um piloto que se aparenta a figuras épicas e mitológicas. Há um tendencioso contraponto, por exemplo, entre as figuras de Senna e do francês Alain Proust, em que o primeiro seria um indivíduo crente em Deus sempre disposto a ganhar corridas de forma arrojada e o segundo um frio ateu mais propenso a acumular pontos para ser campeão. Tal diferenciação pode ser maniqueísta, mas em termos dramáticos para o documentário tem o “feeling” perfeito. A forma com que o documentarista expõe os momentos de conflitos entre Senna e seus adversários (pilotos, “cartolas”) também dá aquela impressão de herói solitário contra as injustiças do mundo automobilístico. É fascinante, todavia, que apesar dessa visão parcial que paira sobre “Senna”, há momentos em que um lado mais obscuro do piloto fica evidenciado, quase como um descuido, em que se pode observar um traço de obsessão calculada em vencer grandes prêmios e campeonatos e estabelecer recordes.

Também é mérito de Kapadia a construção de uma dinâmica narrativa em que mesmo aqueles que não são fãs das corridas (como este que vos escreve) acabam acompanhando com tensão o desdobramento das competições e entendam melhor a dimensão do significado da figura de Senna para o automobilismo mundial e para o próprio Brasil.

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