quinta-feira, dezembro 16, 2010

A Rede Social, de David Fincher ****


Dentro do gênero dos filmes baseados em fatos reais, “A Rede Social” (2010) traz um aspecto peculiar, no sentido de que boa parte dos eventos mostrados nas obra não estão ainda conclusos no tempo: o Facebook continua se expandindo, as ações judiciais em torno dele não param de surgir, Mark Zuckerberg cresce em influência no universo econômico e tecnológico. E isso tudo faz parte de uma lógica fascinante e assustadora que permeia todo o filme de que a velocidade das mudanças tecnológicas e comportamentais é tão fulminante que jovens de pouco menos de 30 anos já são considerados anacrônicos e tecnologias de poucos anos de criação são taxadas de obsoletas. Há o paradoxo, entretanto, que David Fincher formata essa sensação de urgência em uma produção de acabamento estético que beira o clássico e de sereno ritmo narrativo.

A primeira meia hora de “A Rede Social” é primorosa em termos de linguagem cinematográfica. Das cenas iniciais do fora que Zuckerberg leva da namorada até o desenvolvimento dos esboços de programação que levaram às idéias embrionárias do Facebook, há a intermediação com tomadas de uma festa regada a jogos de carta, sexo e drogas em uma tradicional fraternidade universitária. A contraposição entre os dois ambientes (um quarto cheio de nerds em volta de um computador e uma celebração hedonista) estabelecida pela montagem sintetiza com precisão o núcleo do conflito temático do filme, que envolve um misto de obsessão por poder e dinheiro, rancor, inveja, solidão e vazio existencial. No restante de “A Rede Social”, há a queda para uma estrutura mais convencional de drama de tribunal, mas mesmo assim num trabalho muito acima da média, com destaque para a sombria fotografia (que parece evocar o estilo de Gordon Willis na trilogia “O Poderoso Chefão”), a trilha sonora de discretas e climáticas texturas eletrônicas e o elenco de atores. Neste último campo, sobressaem-se Jesse Eisenberg (em composição dramática que combina o assustador e o patético na mesma moeda com naturalidade no papel principal) e Justin Timberlake exalando cinismo e simpatia cara-de-pau na pele de Sean Parker, o criador do Napster.

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