As intenções de Woody Allen na concepção de “Para Roma com
amor” (2012) são evidentes – parece uma espécie de homenagem/ironia com o
clássico livro “Decameron” e aquelas produções cômicas e episódicas italianas
dos anos 60 e 70. O filme não se pretende um retrato típico do espírito
italiano; é mais como se víssemos na tela o imaginário típico de um americano
médio do que seriam a Itália e o seu povo. Como nas fontes que o inspiraram,
seu tom é francamente picaresco, o que acaba se mostrando bastante em sintonia
com o próprio espírito criativo de Allen. Talvez parte do público habitual do
diretor nova-iorquino implique com a falta de maiores novidades (tem-se a
impressão de que por vezes se ouve/vê uma piada reciclada). Não há também um
roteiro consistente e tão bem amarrado quanto “Meia-Noite em Paris” (2011). É
inegável, contudo, que esse aparente comodismo ainda consiga seduzir boa parte
da platéia, seja num estilo formal que traz um registro visual ora apaixonado
ora sarcástico na sua contraposição entre a fotografia cartão postal e uma
estética que beira o onírico, seja pelas passagens que revelam a verve arguta
de Allen a esmiuçar as relações humanas. No saldo final, “Para Roma com amor”
que não vai converter habituais detratores e nem decepcionar a grande maioria
dos apreciadores, mas apenas manter um certo padrão de qualidade do cineasta. O
que, aliás, já é algo acima da média.
2 comentários:
Mesmo já tendo uma certa idade, Allen realmente disparou em lançar inúmeros filmes em seguida. Pelo visto, sua saída do território americano foi uma forma de dar uma renovada nas ideias.
Não acho que ele chegou a renovar algo no seu cinema nestas últimas produções realizadas na Europa. Acho que é aquela velha reciclagem de ideias que ele sempre fez, com maior ou menor inspiração de acordo com o momento criativo.
Postar um comentário