Dentro dessa onda atual de misturar fatos históricos ou clássicos
literários com elementos de horror, em voga tanto no cinema quanto na
literatura, “Abraham Lincoln: Caçador de vampiros” (2012) acaba sendo emblemático
das opções criativas, limitações e contradições que norteiam tal tendência.
Seria fácil julgar essa produção dirigida pelo russo Timur Bekmantov como um
besteirol inconseqüente destinado apenas a satisfazer o público adolescente. O
filme, entretanto, apresenta certas ousadias estéticas, a começar pelo trabalho
bastante estilizado de fotografia e direção de arte. Os excessos das trucagens
por vezes emulam um vídeo game, mas em outros momentos trazem um estranho
encanto visual pelo seu tom sombrio. Permeia também a narrativa uma atmosfera
bizarra e difusa – por mais esdrúxula que seja a trama, ao mostrar o célebre
presidente norte-americano em guerra contra criaturas vampirescas, em nenhum
momento o roteiro busca a paródia voluntária. Na verdade, o filme carrega uma
carga metafórica forte, até pouco sutil, ao relacionar as vilanias dos vampiros
com as posições reacionárias e escravocratas do sul dos EUA durante a Guerra da
Secessão. Nesse contexto, assim como outras obras recentes que utilizam figuras
clássicas da cultura fantástica (zumbis, vampiros, lobisomens, bruxas), a carga
sinistra de tais personagens é reduzida – não são criaturas assustadoras, mas
sim entes a serem abatidos sem a menor cerimônia. Desagradando-se ou não com
tais escolhas temáticas e formais, é inegável que “Abraham Lincoln: Caçador de
vampiros” é o tipo de filme que dificilmente não causa alguma reação por parte
da platéia – para o bem ou para o mal...
Um comentário:
Eu até que gostei na época, mas é um filme que poderia ir mais longe mas que infelizmente acabou se entregando a certos vícios do cinemão americano.
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