Na animação “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), o diretor Wes
Anderson enveredava pelo gênero da aventura juvenil de tom fabular, mas sem
nunca perder o seu senso particular de cinema, pervertendo sutilmente alguns
dos cânones inerentes a esse tipo de filme. Em “Moonrise Kingdom” (2012) ele
volta a se aventurar na seara juvenil e consegue resultados ainda mais
surpreendentes. Anderson é daquele tipo raro de cineasta que parece estar
sempre fazendo a mesma coisa, mas que na realidade se mostra como um autor que
a cada obra burila e aperfeiçoa o seu estilo. Nessa produção mais recente, ele
propõe uma abordagem desconcertante com as suas soluções formais. Talvez esse
seja o filme em que ele dá mais vazão ao seu virtuosismo estético – é só
reparar na notável dinâmica narrativa imposta pelos seus sucessivos planos-sequências.
A direção de fotografia também mostra um trabalho diferenciado no que diz
respeito a enquadramentos que evocam uma deslumbrante dimensão pictórica para
algumas sequências. A utilização da música em “Moonrise Kingdom” colabora mais
ainda para esse tom de conto de fadas fora do tempo e do espaço (ainda que a
trama se situe nos anos 60) que a produção evoca com constância – temas didáticos
e canções sessentistas emblemáticas se complementam de forma inesperada e orgânica.
Coroando tudo isso há a encenação preciosista de Anderson, em que a simples disposição
dos atores e objetos em cena desempenham papel crucial na iconografia do
diretor, além da caracterização genial do seu elenco – se por um lado a ala
infantil é marcada por interpretações anti-naturalista e icônicas, por outro os
atores adultos (principalmente pelo trio Bill Murray, Bruce Willis e Frances McDormand)
enfoca o dramatismo melancólico, gerando um contraste impactante.
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