quinta-feira, dezembro 27, 2012

Os infratores, de John Hillcoat ****


A parceria entre o diretor John Hillcoat e o roteirista e músico Nick Cave já havia gerado uma contundente releitura do gênero faroeste na obra-prima “A proposta” (2005). Os dois novamente se reúnem em “Os infratores” (2012), mas agora numa espécie de revitalização dos filmes de gangsteres. Apesar das referências históricas que vez e outra aparecem na trama, a verdade é que a estética da produção evoca mais uma vez a estrutura de um faroeste. Há um tom crepuscular na narrativa, assim como uma estrutura estilística que oscila entre elementos realistas e icônicos. De certa forma, faz lembrar algo de um John Ford imerso em sangue e brutalidade. Por vezes, a exacerbação e a encenação algo operística dessa violência remete ao cinema visceral de Sam Peckinpah. Essas influências e referências que despontam em “Os infratores”, entretanto, não significam que tal obra seja meramente derivativa. Muito pelo contrário. A partir do resgate desse classicismo formal e temático, Hillcoat constrói de forma inspirada uma narrativa vigorosa e repleta de virtuosismo cinematográfico, buscando um precioso equilíbrio entre o sutil suspense e o tom grandioso de cenas ação altamente impactantes. O roteiro de Cave combina magistralmente aventura e um subtexto que é uma bem elaborada dissecação do que representa a mitificação na cultura ocidental, na vertente do clássico “O homem que matou o facínora” (1962), clássico do mencionado Ford. Além disso, sua trilha sonora, composta ao lado de Warren Ellis, fornece o clima adequado na junção de country e blues enfezados. Coroando esse belo trabalho de Hillcoat, não há como ficar impassível perante o ótimo trabalho de composições dramáticas de seu elenco (com destaque para Tom Hardy e Guy Pearce), que enveredam por caracterizações que enfatizam mais uma iconografia particular de uma época (violência, sensualidade, ambiguidade moral) do que densidades psicológicas.

Nenhum comentário: