A parceria entre o diretor John Hillcoat e o roteirista e
músico Nick Cave já havia gerado uma contundente releitura do gênero faroeste
na obra-prima “A proposta” (2005). Os dois novamente se reúnem em “Os
infratores” (2012), mas agora numa espécie de revitalização dos filmes de
gangsteres. Apesar das referências históricas que vez e outra aparecem na
trama, a verdade é que a estética da produção evoca mais uma vez a estrutura de
um faroeste. Há um tom crepuscular na narrativa, assim como uma estrutura
estilística que oscila entre elementos realistas e icônicos. De certa forma,
faz lembrar algo de um John Ford imerso em sangue e brutalidade. Por vezes, a
exacerbação e a encenação algo operística dessa violência remete ao cinema
visceral de Sam Peckinpah. Essas influências e referências que despontam em “Os
infratores”, entretanto, não significam que tal obra seja meramente derivativa.
Muito pelo contrário. A partir do resgate desse classicismo formal e temático,
Hillcoat constrói de forma inspirada uma narrativa vigorosa e repleta de
virtuosismo cinematográfico, buscando um precioso equilíbrio entre o sutil
suspense e o tom grandioso de cenas ação altamente impactantes. O roteiro de
Cave combina magistralmente aventura e um subtexto que é uma bem elaborada
dissecação do que representa a mitificação na cultura ocidental, na vertente do
clássico “O homem que matou o facínora” (1962), clássico do mencionado Ford.
Além disso, sua trilha sonora, composta ao lado de Warren Ellis, fornece o
clima adequado na junção de country e blues enfezados. Coroando esse belo
trabalho de Hillcoat, não há como ficar impassível perante o ótimo trabalho de
composições dramáticas de seu elenco (com destaque para Tom Hardy e Guy
Pearce), que enveredam por caracterizações que enfatizam mais uma iconografia
particular de uma época (violência, sensualidade, ambiguidade moral) do que
densidades psicológicas.
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