Nos curtas “A menina do algodão” (2003) e “Vinil verde”
(2004), o diretor Kleber Mendonça Filho já havia demonstrado que o elemento do
fantástico se insinuava de forma sutil e personalíssima no seu cinema. No longa
“O som ao redor”, tal concepção novamente se manifesta e de forma ainda mais
insólita. A estrutura narrativa pressupõe uma obra de cunho realista, num
registro que aparentemente evoca pequenas ações e gestos do quotidiano num
bairro classe média de Recifes. Aos poucos, entretanto, a trama vai
apresentando estranhas intervenções, que variam entre o delírio, o cômico e o
suspense. Kleber utiliza uma estética elegante e precisa na sua encenação, em
que o enfoque não está em grandes viradas climáticas no roteiro, mas sim num
crescente exasperante na caracterização de situações e personagens. Esse
formalismo um tanto bizarro do cineasta se acentua na forma com que o áudio se
insere no filme – há pouquíssima música incidental em cena, valorizando tanto
os barulhos ambientais quanto o próprio silêncio como recursos dramáticos.
Assim, as escolhas artísticas de Kleber resultam numa obra inquietante como
poucas no cinema brasileiro recente, capaz de causar um inesperado encanto para
os espectadores.
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