segunda-feira, dezembro 17, 2012

O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho ***1/2


Nos curtas “A menina do algodão” (2003) e “Vinil verde” (2004), o diretor Kleber Mendonça Filho já havia demonstrado que o elemento do fantástico se insinuava de forma sutil e personalíssima no seu cinema. No longa “O som ao redor”, tal concepção novamente se manifesta e de forma ainda mais insólita. A estrutura narrativa pressupõe uma obra de cunho realista, num registro que aparentemente evoca pequenas ações e gestos do quotidiano num bairro classe média de Recifes. Aos poucos, entretanto, a trama vai apresentando estranhas intervenções, que variam entre o delírio, o cômico e o suspense. Kleber utiliza uma estética elegante e precisa na sua encenação, em que o enfoque não está em grandes viradas climáticas no roteiro, mas sim num crescente exasperante na caracterização de situações e personagens. Esse formalismo um tanto bizarro do cineasta se acentua na forma com que o áudio se insere no filme – há pouquíssima música incidental em cena, valorizando tanto os barulhos ambientais quanto o próprio silêncio como recursos dramáticos. Assim, as escolhas artísticas de Kleber resultam numa obra inquietante como poucas no cinema brasileiro recente, capaz de causar um inesperado encanto para os espectadores.

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