sexta-feira, dezembro 21, 2012

Antônio Conselheiro - O taumaturgo dos sertões, de José Walter Lima ***


Para contar a história de Canudos, o diretor José Walter Lima preferiu não seguir um formato mais convencional. Abdicando da simples recriação de época, o que interessou para o diretor foi realizar uma espécie de tratado sensorial sobre aquele movimento revoltoso. Em “Antônio Conselheiro – O taumaturgo dos sertões” (2012), a encenação da trajetória do líder messiânico e seus seguidores possui um formalismo bruto e sem concessões, em que os recursos modestos da produção acabam ganhando até uma sintonia artística e espiritual com a sua própria temática. Momentos de caráter teatral enfatizam o aspecto delirante de Conselheiro e acólitos, assim como a recriação naturalista de outros trechos, com um viés de influência neo-realista, evoca muito da literatura sobre o tema, de escritores como Euclides da Cunha e Vargas Llosa. Nesse sentido, por vezes, Lima dá a impressão de estar realizando um falso documentário tamanha a crueza de seu registro e a direção de seus atores amadores. Essa gama de referências e estilos compõe um estranho mosaico, cuja beleza hermética afasta o filme de um simples didatismo e faz o espectador mergulhar no imaginário coletivo de uma época.

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