Para contar a história de Canudos, o diretor José Walter
Lima preferiu não seguir um formato mais convencional. Abdicando da simples
recriação de época, o que interessou para o diretor foi realizar uma espécie de
tratado sensorial sobre aquele movimento revoltoso. Em “Antônio Conselheiro – O
taumaturgo dos sertões” (2012), a encenação da trajetória do líder messiânico e
seus seguidores possui um formalismo bruto e sem concessões, em que os recursos
modestos da produção acabam ganhando até uma sintonia artística e espiritual
com a sua própria temática. Momentos de caráter teatral enfatizam o aspecto
delirante de Conselheiro e acólitos, assim como a recriação naturalista de
outros trechos, com um viés de influência neo-realista, evoca muito da
literatura sobre o tema, de escritores como Euclides da Cunha e Vargas Llosa.
Nesse sentido, por vezes, Lima dá a impressão de estar realizando um falso
documentário tamanha a crueza de seu registro e a direção de seus atores
amadores. Essa gama de referências e estilos compõe um estranho mosaico, cuja
beleza hermética afasta o filme de um simples didatismo e faz o espectador
mergulhar no imaginário coletivo de uma época.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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