terça-feira, agosto 18, 2015

Dromedário no asfalto, de Gilson Vargas **


As praias do Rio Grande do Sul não são conhecidas exatamente por sua beleza. Ao contrário dos cenários paradisíacos dos litorais do Nordeste e de Santa Catarina, nos balneários gaúchos predominam aquele visual melancólico e bruto de areia dura, mar marrom e ausência de alguma vegetação vistosa. No inverno, tais praias ficam com uma atmosfera ainda mais sombria e desoladora. Ainda sim, dá para dizer que há algo de belo nessa feiúra. O próprio cinema gaúcho conseguiu captar um pouco da “magia” dessa atmosfera litorânea peculiar em filmes como “Houve uma vez dois verões” (2002) e “A última estrada da praia” (2011). Nesse sentido, dá para dizer que “Dromedário no asfalto” (2014) dá uma continuidade a essa tradição. Há sequências muito marcantes a retratar a beira-mar cinzenta e balneários isolados, com um registro audiovisual que configura uma ambientação soturna, por vezes até sugerindo algo como um dimensão paralela. Se o filme de Gilson Vargas se resumisse a ser um documentário de caráter sensorial sobre praias gaúchas mais obscuras, certamente poderia até ser uma obra mais cativante. Ocorre que o gênero da produção é outra e nessa vertente escolhida, o drama ficcional, a narrativa desanda. Dá para entender que a concepção temática e formal de “Dromedário no asfalto” traga elementos pessoais muito fortes de seus realizadores, mas o jeito como isso chega nas telas acaba sendo enfadonho. A narrativa com voz over do protagonista Pedro (Marcos Contreras) despeja um texto auto-indulgente e pedante, estando mais para má literatura do que para um recurso cinematográfico eficaz. Além disso, o roteiro se prende a um modelo de road movie óbvio que nunca realmente consegue decolar – nas andanças de Pedro vão aparecendo personagens que pouco acrescentam, funcionando mais como um escape burocrático para a trama. Vargas parece se conformar com truques narrativos manjados (afinal, quem ainda aguenta ver um filme com cenas de alguém olhando para o mar sugerindo reflexão e tristeza?). Ok, pode ser que haja espectador que se identifique com as angústias existenciais do protagonista e talvez assim “Dromedário no asfalto” cumpra alguma função artística, mas o fato é que as escolhas estéticas da obra a levam àquele limbo das produções que ficaram no meio do caminho.

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