As praias do Rio Grande do Sul não são conhecidas exatamente
por sua beleza. Ao contrário dos cenários paradisíacos dos litorais do Nordeste
e de Santa Catarina, nos balneários gaúchos predominam aquele visual melancólico
e bruto de areia dura, mar marrom e ausência de alguma vegetação vistosa. No
inverno, tais praias ficam com uma atmosfera ainda mais sombria e desoladora.
Ainda sim, dá para dizer que há algo de belo nessa feiúra. O próprio cinema gaúcho
conseguiu captar um pouco da “magia” dessa atmosfera litorânea peculiar em
filmes como “Houve uma vez dois verões” (2002) e “A última estrada da praia”
(2011). Nesse sentido, dá para dizer que “Dromedário no asfalto” (2014) dá uma
continuidade a essa tradição. Há sequências muito marcantes a retratar a
beira-mar cinzenta e balneários isolados, com um registro audiovisual que
configura uma ambientação soturna, por vezes até sugerindo algo como um dimensão
paralela. Se o filme de Gilson Vargas se resumisse a ser um documentário de caráter
sensorial sobre praias gaúchas mais obscuras, certamente poderia até ser uma
obra mais cativante. Ocorre que o gênero da produção é outra e nessa vertente escolhida,
o drama ficcional, a narrativa desanda. Dá para entender que a concepção temática
e formal de “Dromedário no asfalto” traga elementos pessoais muito fortes de
seus realizadores, mas o jeito como isso chega nas telas acaba sendo enfadonho.
A narrativa com voz over do protagonista Pedro (Marcos Contreras) despeja um
texto auto-indulgente e pedante, estando mais para má literatura do que para um
recurso cinematográfico eficaz. Além disso, o roteiro se prende a um modelo de
road movie óbvio que nunca realmente consegue decolar – nas andanças de Pedro vão
aparecendo personagens que pouco acrescentam, funcionando mais como um escape
burocrático para a trama. Vargas parece se conformar com truques narrativos
manjados (afinal, quem ainda aguenta ver um filme com cenas de alguém olhando
para o mar sugerindo reflexão e tristeza?). Ok, pode ser que haja espectador
que se identifique com as angústias existenciais do protagonista e talvez assim
“Dromedário no asfalto” cumpra alguma função artística, mas o fato é que as
escolhas estéticas da obra a levam àquele limbo das produções que ficaram no
meio do caminho.
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