A diretora dinamarquesa Susanne Bier começou sua trajetória
cinematográfica bastante ligada ao radical movimento Dogma 95. Com o tempo, foi
cada vez mais se afastando das concepções radicais de Lars Von Trier e
assemelhados e se vinculando a uma vertente convencional de melodramas. Não à
toa, acabou tendo um de seus filmes (“Brother”) adaptado para uma versão
norte-americana, bem como ganhou Oscar e Globo de Ouro por “Um mundo melhor” (2010)
e dirigiu algumas produções nos Estados Unidos. “Segunda chance” (2014) é um
exemplar sintomático dessa tendência para a acessibilidade comercial e artística
de Bier. O filme até dá uma enganada em algumas sequências pela pegada forte de
violência e sujeira gráficas. As cenas de fúria junkie do nojento Tristan (Nikolaj
Lie Kaas), de loucura alucinada da histérica Anna (Maria Bonnevie) e de um bebê
sujo de merda e urina dentro de um armário imundo revelam um talento inato de
Bier para tomadas impactantes, fazendo imaginar o que ela poderia render num
autêntico filme de horror. Essas contundentes qualidades estéticas da produção,
entretanto, acabam atenuadas por uma narrativa banal e primária. O roteiro
busca estabelecer uma relação de contradição moral entre determinadas situações,
mas acaba caindo num moralismo óbvio e ingênuo em tais truques. De certa forma,
dá para dizer que essa abordagem é coerente com as obras anteriores da
cineasta, fazendo supor que Bier parece ser fascinada com dilemas católicos
como culpa e expiação. Tais conceitos se manifestam, todavia, de forma bastante
obtusa. Aquilo que era para ser perturbador e inquietante acaba se resumindo
numa equação simplória: novelão global exagerado estilo Manoel Carlos mais
suspense picareta e risível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário