terça-feira, agosto 25, 2015

Segunda chance, de Susanne Bier **


A diretora dinamarquesa Susanne Bier começou sua trajetória cinematográfica bastante ligada ao radical movimento Dogma 95. Com o tempo, foi cada vez mais se afastando das concepções radicais de Lars Von Trier e assemelhados e se vinculando a uma vertente convencional de melodramas. Não à toa, acabou tendo um de seus filmes (“Brother”) adaptado para uma versão norte-americana, bem como ganhou Oscar e Globo de Ouro por “Um mundo melhor” (2010) e dirigiu algumas produções nos Estados Unidos. “Segunda chance” (2014) é um exemplar sintomático dessa tendência para a acessibilidade comercial e artística de Bier. O filme até dá uma enganada em algumas sequências pela pegada forte de violência e sujeira gráficas. As cenas de fúria junkie do nojento Tristan (Nikolaj Lie Kaas), de loucura alucinada da histérica Anna (Maria Bonnevie) e de um bebê sujo de merda e urina dentro de um armário imundo revelam um talento inato de Bier para tomadas impactantes, fazendo imaginar o que ela poderia render num autêntico filme de horror. Essas contundentes qualidades estéticas da produção, entretanto, acabam atenuadas por uma narrativa banal e primária. O roteiro busca estabelecer uma relação de contradição moral entre determinadas situações, mas acaba caindo num moralismo óbvio e ingênuo em tais truques. De certa forma, dá para dizer que essa abordagem é coerente com as obras anteriores da cineasta, fazendo supor que Bier parece ser fascinada com dilemas católicos como culpa e expiação. Tais conceitos se manifestam, todavia, de forma bastante obtusa. Aquilo que era para ser perturbador e inquietante acaba se resumindo numa equação simplória: novelão global exagerado estilo Manoel Carlos mais suspense picareta e risível.

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