sexta-feira, agosto 28, 2015

Homem irracional, de Woody Allen **

Há um momento em “Homem irracional” (2015) que o protagonista Abe Lucas (Joaquim Phoenix) diz que não precisa de uma musa para resolver suas crises existenciais e criativas. No caso de Woody Allen, entretanto, parece que a presença de uma nova musa inspiradora é urgente. Assim como em “Magia ao luar” (2014), o cineasta norte-americano tem como personagem principal feminina Emma Stone, uma atriz bonita e simpática, mas incapaz de dar consistência dramática para papéis de maior densidade. Isso parece contaminar até o próprio senso estético e temático de Allen. O filme evoca elementos formais e de conteúdo que já haviam sido utilizados em outras produções do diretor, o que por si só não chega a ser um demérito, pois a filmografia de Allen se baseia numa espécie de aprimoramento e retomadas de ideias e obsessões dele. O que incomoda em “Homem irracional” é que essa tradicional reciclagem artística ora é feita no piloto automático ora é realizada de forma piorada e mais simplória. Nesse sentido, talvez a comparação que mais vem à cabeça é com a obra-prima “Match Point” (2005). Os dilemas básicos dos roteiros são os mesmos, principalmente na questão que diz respeito ao sentimento de culpa perante um assassinato cometido. Há até mesmo as referências à “Crime e castigo” de Dostoievski. Mas tudo aquilo que era sutil, sofisticado e sexy em “Match Point” nessa obra mais recente é pueril, óbvio e por vezes até mesmo grosseiro. Faz até pensar que seja uma brincadeira de Allen tentando mostrar ao espectador como seria refilmar “Match Point” de uma forma em que tudo saísse errado: não há uma tensão dramática que seja envolvente nas cenas mais cruciais do filme, o subtexto é jogado na cara da plateia de forma ostensiva nos diálogos, o elenco anestesiado em atuações apáticas (mesmo o geralmente intenso Phoenix parece um tanto perdido em cena). É claro que no final das contas não dá para dizer que “Homem irracional” seja exatamente um filme ruim. Dá para distrair nossos sentidos com a fotografia bonita e agradável e com a trilha sonora repleta de extraordinários temas de jazz. Em se tratando de artista com o currículo de Allen, contudo, acaba sendo muito pouco e, por isso, bem frustrante.

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