O novo capítulo das aventuras do agente Ethan Hunt (Tom
Cruise) em termos de estrutura de narrativa pouco difere dos filmes anteriores
da série. Há uma grande conspiração internacional que motiva Hunt e seus
parceiros a viajar ao redor do mundo, com direito a pontuais viradas na trama,
surpreendentes ou não, além de três ou quatro apoteóticas sequências de ação. O
que faz a diferença em cada episódio da franquia é o tipo de abordagem formal
que o diretor responsável resolve adotar para direcionar a narrativa. Em “Missão
impossível: Nação secreta” (2015), o cineasta Christopher McQuarrie surpreende
nas suas escolhas estéticas e temáticas ao procurar um viés mais sutil. É claro
que estão lá as cenas de ação baseadas em encenação e efeitos apoteóticos (a
abertura com o protagonista se segurando na porta de um avião em pleno vôo pelo
lado de fora é um primor de exagero que beira o delirante). Predomina, entretanto,
uma atmosfera mais cool nos desdobramentos da trama ao invés do tom frenético
constante que é primordial na maioria das produções contemporâneas do gênero
aventura. É exemplar desse direcionamento toda a extraordinária sequência na ópera
“Turandot” de Puccini num teatro vienense, com uma encenação elegante e precisa
na sua combinação de violência, ação e música. O truque de usar a evolução de
uma música clássica numa apresentação para marcar a ascensão e ápice de uma seqüência
de ação não é exatamente uma novidade (conforme aquela passagem antológica de “O
homem que sabia demais” de Hitchcock), mas McQuarrie conduz tudo com uma elegância
formal tão notável que tal recurso acaba se tornando até mesmo surpreendente.
Ainda que o seu terço final apele para convencionalismos e simplificações e no
conjunto geral não tenha a mesma excelência artística do primeiro “Missão
Impossível” (1996) dirigido pelo mestre Brian De Palma, “Nação secreta” se
coloca entre as melhores produções da série e um dos grandes destaques no gênero
aventura de 2015 ao lado de “Mad Max: A estrada da fúria” e “Hacker”.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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