Poucos diretores em atividade têm uma assinatura artística tão
característica quanto a do cineasta russo Alexander Sokurov. Seu estilo é
ostensivamente identificável logo nas primeiras imagens de qualquer de seus
filmes. Aquilo que alguns podem identificar como mera repetição, na realidade
está muito mais para uma depuração extrema na concepção e realização de suas
produções. Nesse contexto, “Mãe e filho” (1997) traz no seu bojo elementos
formais e temáticos que se cristalizariam de forma ainda mais intensa em “A
arca russa” (2002) e “Fausto” (2011). A premissa do roteiro é simples na sua
aparência: a relação de um filho com a sua mãe moribunda tendo como cenário o
interior campestre da Rússia. Esse intimismo bucólico, entretanto, vai ganhando
uma dimensão mais ampla com o desenvolvimento da narrativa. Sokurov constrói
uma obra de ambientação rarefeita e de texto elíptico – a estética realista vai
se dissolvendo em nome de uma linguagem anti-naturalista. Nesse contexto, a
obra se converte num misto de poesia e simbolismo intrincado. Os diálogos são
evasivos e carregados de metáforas, enquanto a direção de fotografia converte
suas imagens em quadros vivos de iluminação e enquadramentos expressivos e
delirantes. O ritmo da narrativa é lento, como se evocasse um pesadelo melancólico
em câmera lenta. Talvez aí resida a síntese criativa de “Mãe e filho”: a junção
entre a beleza plástica de seu formalismo e a sua perturbada atmosfera de um
sonho ruim, resultando em uma obra que se cola no imaginário do espectador de
forma contundente.
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