sexta-feira, agosto 21, 2015

Mãe e filho, de Alexander Sokurov ***1/2


Poucos diretores em atividade têm uma assinatura artística tão característica quanto a do cineasta russo Alexander Sokurov. Seu estilo é ostensivamente identificável logo nas primeiras imagens de qualquer de seus filmes. Aquilo que alguns podem identificar como mera repetição, na realidade está muito mais para uma depuração extrema na concepção e realização de suas produções. Nesse contexto, “Mãe e filho” (1997) traz no seu bojo elementos formais e temáticos que se cristalizariam de forma ainda mais intensa em “A arca russa” (2002) e “Fausto” (2011). A premissa do roteiro é simples na sua aparência: a relação de um filho com a sua mãe moribunda tendo como cenário o interior campestre da Rússia. Esse intimismo bucólico, entretanto, vai ganhando uma dimensão mais ampla com o desenvolvimento da narrativa. Sokurov constrói uma obra de ambientação rarefeita e de texto elíptico – a estética realista vai se dissolvendo em nome de uma linguagem anti-naturalista. Nesse contexto, a obra se converte num misto de poesia e simbolismo intrincado. Os diálogos são evasivos e carregados de metáforas, enquanto a direção de fotografia converte suas imagens em quadros vivos de iluminação e enquadramentos expressivos e delirantes. O ritmo da narrativa é lento, como se evocasse um pesadelo melancólico em câmera lenta. Talvez aí resida a síntese criativa de “Mãe e filho”: a junção entre a beleza plástica de seu formalismo e a sua perturbada atmosfera de um sonho ruim, resultando em uma obra que se cola no imaginário do espectador de forma contundente.

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