sexta-feira, dezembro 02, 2016

A chegada, de Denis Villeneuve ***1/2

Talvez o grande problema para que o canadense Denis Villeneuve se firmasse como um dos cineastas mais promissores a surgirem nos últimos anos é uma excessiva pretensão “autoral”. Não que ambição artística seja um problema, mas em seus filmes dava para perceber uma boa mão na encenação e um trabalho diferenciado na direção de atores e que por vezes falhavam como narrativa diante de um certo tom solene e excessivamente reflexivo que deixava o ritmo de suas histórias um tanto truncado, além dos seus respectivos roteiros se perderem em excessos novelescos. A ficção científica “A chegada” (2016) é o filme de Villeneuve que melhor consegue resolver esse nó criativo. Assim como em sua produção imediatamente anterior, “Sicário” (2015), fotografia e trilha sonora são grandes pontos altos da obra, ajudando a compor uma atmosfera melancólica e algo metafísica para uma trama versando sobre a chegada de alienígenas na Terra, apresentando algumas referências visuais e mesmo de ambientação que lembram Terrence Malick e Andrei Tarkovsky. A sofisticação de tais elementos estéticos consegue se encaixar com naturalidade dentro de uma lógica narrativa que se liga a uma estrutura de filme de gênero, ou seja, o tom contemplativo está em sintonia com uma dinâmica tradicional da ficção científica contemporânea. É de se ressaltar ainda a ousada concepção imagética dos efeitos especiais e um roteiro que consegue dosar de maneira equilibrada os clichês habituais da aventura fantástica com a pretensão e complexidade temáticas a envolver viagens no tempo, comentário sócio-político e utopia sci fi.

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