sexta-feira, dezembro 09, 2016

Time will burn, de Marko Panayotis e Otávio Sousa ***

Para muita gente, o rock and roll significa bandas que vendem milhares de discos, que tem shows lotados em grandes espaços (arenas, estádios), que são famosas em termos midiáticos e outras amenidades afins. Na realidade, tal cenário representa uma exceção dentro da história desse gênero musical, pois grande parte do que se já fez de melhor no rock está vinculado a situações como a de tocar em muquifos para algumas dezenas, não ter vendagens expressivas de suas gravações, ser ignorado pela imprensa e pelo público “normal”. Ok, também é recorrente dizer que o rock foi absorvido pelo sistema, mas ele sempre trará dentro de si um certo aspecto de marginalidade e contestação. Por isso que o documentário “Time will burn” (2016) consegue ser tão cativante. O filme retrata um recorte temporal e territorial bem delimitado – o cenário underground de bandas paulistas e cariocas no período de 1990 a 1994 que se aventuravam dentro um som barulhento bastante influenciado por grupos estrangeiros como Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine e Stooges. Cantando em inglês e desenvolvendo suas carreiras dentro de um esquema independente envolvendo gravações em cassetes “demo” ou discos por selos alternativos, apresentações em pequenos bares e boates e divulgação por fanzines, cartazes e flyers xerocados, nenhuma delas atingiu o sucesso comercial ou entrou para os anais da história “oficial” do rock and roll, mas acabaram se tornando cultuadas e influentes para alguns de seus seguidores. Para contar essa história, os diretores Marko Panayotis e Otávio Sousa articulam uma narrativa eficaz e envolvente e um acabamento estético que sabe sintetizar requinte e o espírito “do it yourself”, concentrando-se basicamente na trajetória das quatros principais bandas desse movimento (Pin Ups, Killing Chainsaw, Mickey Junkies e Second Come) e sabendo valorizar a crueza e espontaneidade nas filmagens de depoimentos e os impressionantes registros de época com as apresentações de tais bandas. Além disso, o filme consegue amarrar um coerente conceito existencial e artístico que dá a devida dimensão histórica daquele fenômeno cultural, mostrando como ele ainda é ressonante na atualidade.

Nenhum comentário: