sexta-feira, dezembro 16, 2016

Elas me odeiam, mas me querem, de Spike Lee ***

Mesmo em um filme que não é dos mais expressivos de sua carreira, o diretor Spike Lee consegue deixar uma marca autoral indelével e capaz de suscitar alguns interessantes questionamentos artísticos e existenciais. Isso é o que fica evidente em “Elas me odeiam, mas me querem” (2004). A intenção do cineasta era fazer uma espécie de comédia farsesca a satirizar preconceitos raciais e valores comportamentais e sociais típicos da sociedade burguesa ocidental. O problema da obra, contudo, é que ela exigia uma abordagem mais ousada na construção de uma narrativa de tons libertários e de uma atmosfera que soubesse sintetizar erotismo e ácido sarcasmo. No geral, prevalece uma condução mais convencional de Lee, o que faz com que por vezes o filme caia no lugar comum. Ainda assim, o diretor consegue obter alguns bons momentos, principalmente por um notável virtuosismo na composição imagética de algumas cenas, no diferenciado trabalho de edição, na bela trilha sonora e em algumas passagens memoráveis do roteiro. Nesse último quesito, destaques para as sequências em que o protagonista Jack (Anthony Mackie) se torna um bem pago reprodutor para filhos de lésbicas, trazendo uma bem sacada combinação de ironia perversa e quente sensualidade (Spike Lee sempre teve ótima mão para filmar cenas de sexo).

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