quarta-feira, dezembro 21, 2016

Sangue do meu sangue, de Marco Bellocchio ***1/2

O diretor italiano Marco Bellocchio mostra em “Sangue do meu sangue” (2015) que ainda é capaz de deixar as plateias desconcertadas. A trama do filme se situa em dois planos temporais, passado e presente, e faz uma reflexão intrincada sobre religião e poder. O viés estético e narrativo flutua dentro de uma estranha síntese que abarca drama de época, realismo fantástico e comicidade bufa, situando a obra numa encruzilhada artística-existencial difícil de precisar. Por vezes, o tratamento formal é tão insólito que faz tudo beirar o delirante. Bellocchio tem a sensibilidade de conciliar tais elementos diversos dentro de uma concepção rigorosa de filmar – ainda que a história se desenvolva por caminhos bastantes livres, em que ambientações solenes convivem de maneira natural com sensualidade à flor da pele, sempre dá para perceber a mão do cineasta dando um sentido personalíssimo para a narrativa. Dessa maneira, alguns truques melodramáticos de determinas cenas aos poucos são envenenados por uma atmosfera de puro absurdo, característica essa que é bem delimitada na figura de um chefão mafioso vampiro, que simboliza de maneira sardônica e melancólica uma certa concepção entre o irônico e o nostálgico de uma tradição secular decadente. Nesse bizarro jogo narrativo, não importa a existência de um final convencional que amarre todas as pontas da trama – para Bellocchio, importa mais traduzir em audiovisual um perturbador sentimento atávico que marca o imaginário coletivo de seu país.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

muito show o filme