segunda-feira, dezembro 12, 2016

Ninguém deseja a noite, de Isabel Coixet **1/2

No subtexto da trama de “Ninguém deseja a noite” (2015) há um forte teor de contestação dos valores sócio-culturais do mundo ocidental. As obsessões, caprichos e preconceitos da protagonista Joséphine (Juliette Binoche) sintetizam os interesses mercantilistas e opressores dos países europeus colonizadores em relação aos países explorados por tais nações, com tais intenções de dominação sendo mascarados por hipócritas máscaras de patriotismo, religiosidade e civilidade. O problema do filme é que a contundência desse discurso temático acaba tendo a sua força diminuída a partir de uma abordagem narrativa atrelada ao melodrama excessivamente convencional. A obra da diretora espanhola Isabel Coixet até consegue apresentar algumas belas sequências em termos plásticos diante de um conjunto eficiente de fotografia e direção de arte, mas falta uma atmosfera de tensão e violência mais convincente, que efetivamente consiga prender o interesse da plateia. Coixet se contenta em enveredar por facilidades narrativas, como uma trilha sonora pomposa e onipresente e exageros sentimentais, ao invés de apostar num registro mais sóbrio que conseguiria reproduzir com mais verdade e paixão o eterno embate entre o indivíduo dito “civilizado” e uma natureza inclemente que não se rende a uma suposta meritocracia.

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