segunda-feira, dezembro 05, 2016

Amnésia, de Barbet Schroeder ***

A trama de “Amnésia” (2015) estabelece uma insólita ponte entre a Alemanha nazista dos anos 30 e 40 com a ensolarada e hedonista praia espanhola de Ibiza nos anos 90, simbolizada no platônico relacionamento amoroso entre Jo (Max Riemelt), um jovem DJ, e Martha (Marthe Keller), uma retraída senhora de 70 anos, ambos germânicos “exilados” no paradisíaco litoral. O que poderia adquirir contornos de bizarrice melodramática ganha contornos bem mais sóbrios e profundos a partir da sutileza da abordagem narrativa do diretor Barbet Schroeder. A direção de fotografia valoriza com sensibilidade os belos cenários naturais de Ibiza, mas não cai no mero registro “cartão postal”, estabelecendo, na verdade, um inquietante contraponto entre essa ambientação agradável com o passado obscuro de Martha e a ambiguidade de sua relação com Jo. Outro ponto alto artístico é a maneira como a música se insere no filme, servindo como uma espécie de elo simbólico a retratar a cumplicidade entre o par de protagonistas e também o processo de reaproximação existencial de Martha com o mundo. Nesse sentido, os belos temas eletrônicos da trilha sonora realçam tanto o particular contexto cultural dos cenários da trama, afinal Ibiza é o grande ponto de convergência mundial da música eletrônica dançante, como um certo caráter libertário de “Amnésia” na exposição das relações humanas.

Nenhum comentário: